domingo, 30 de novembro de 2008

Duelo de Tricolores termina empatado, adiando a decisão do Brasileirão para a última rodada

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Por Fernando Murilo


Em um jogo de extrema velocidade, os mais de 70 mil torcedores presentes no Morumbi seguraram na garganta o grito de campeão brasileiro, já que esqueceram de avisar ao Fluminense que era pra perder a partida.

Como é de praxe em meus comentários, antes dos lances de jogo, analisemos as propostas de cada treinador em suas escalações. O São Paulo do técnico e aniversariante do dia Muricy Ramalho armou seu já conhecido e badalado esquema 3-5-2, com a zaga mais técnica e consistente do campeonato, formada por André Dias, Miranda e Rodrigo, um meio-campo com dois alas extremamente ofensivos (Jorge Wagner e Joílson), além do já badalado Hernanes e da jovem revelação Jean para compor a parte de marcação neste setor. Como meia de ligação, temos Hugo, que subiu bastante de produção na reta final da competição. No ataque, Dagoberto e o artilheiro do São Paulo no campeonato Borges. Este esquema é o que de melhor o técnico são-paulino considera em seu elenco: uma equipe bastante criativa, que arrisca muitos chutes de fora da área e que aproveita bastante a velocidade e o jogo de corpo do seu jogador de referência na área. Já pelo lado do tricolor das Laranjeiras, a proposta do técnico “filósofo” Renê Simões foi, ao contrário do que muitos poderiam esperar, ofensiva, com o aproveitamento dos seus laterais (em especial o Júnior César, pela esquerda), e com um meia de bastante criatividade pelo meio, Darío Conca, além é claro do artilheiro do coração Washington.

Feitas as análises táticas das equipes, vamos ao que interessa. Quem esperava que o Fluminense viria com uma proposta de simplesmente conter o São Paulo para conquistar um empate suado e espantar de vez o fantasma do rebaixamento estava enganado. Tanto que, logo no primeiro minuto de jogo, o volante Arouca, um grande jogador deste time, arrancou pela direita e chutou cruzado, levando perigo ao goleiro Rogério Ceni. Porém, o que se viu foi uma resposta imediata do atacante Borges, que numa enfiada de Hernanes girou o corpo encima do zagueiro e chutou da meia-lua da grande área, causando perigo a meta defendida pelo goleiro Fernando Henrique. Nessa partida, nada diferente do que vem acontecendo ao longo da temporada, o tricolor paulista tem que contar com os lampejos de criatividade do seu esforçado meia de criação Hugo que, convenhamos, não tem lá tanta produtividade ofensiva, ainda por cima marcado por um grande jogador como o Fabinho, ficando a cargo da criação da grande maioria das jogadas ofensivas por Hernanes e pelo Jorge Wagner. Joílson foi muito bem anulado, tendo em vista que o lado esquerdo do Fluminense, com o lateral Júnior César além de um inspiradíssimo Conca, deu trabalho na marcação. Porém, seu ataque pouco produzia em termos ofensivos, já que Maicon e Washington não estavam se entendendo em campo. Mesmo assim, o ritmo do jogo era acelerado, com ataque atrás de ataque, cabendo aos jogadores mais habilidosos quebrarem este ritmo com lançamentos, além é claro das faltas, que levavam a bolas paradas perigosíssimas. Um retrato dessa velocidade e dessa troca de “gentilezas ofensivas” das equipes é bem refletido numa bola em que Borges recebeu dentro da área, e mesmo de costas pra marcação, conseguiu girar e meter um chute indefensável para muitos goleiros, mas não para o jovem Fernando Henrique, grande defesa! E logo no contra-golpe uma falta batida por Conca, o zagueiro Luiz Alberto meteu na trave a bola na meta do já vencido Rogério Ceni, que confiou no golpe de vista.

O segundo tempo chegou e Renê Simões tratou logo de por ordem na casa: tirou o jovem Maicon que estava rendendo pouquíssimo e pôs o jovem Tarta. E como corre esse Tarta! Caia de um lado, do outro, causando, quem diria, confusão no badalado sistema defensivo são-paulino. E numa dessas confusões, Washington recebeu na entrada da área, o Rogério saiu pra defender mas deu rebote, e quem estava lá pra conclusão? Tarta não perdoou! Fluminense inaugurando o placar e calando a boca dos torcedores são paulinos que já entoavam cânticos alusivos ao título.

Mas o tricolor paulista não estava vencido não, e tentou no abafa, logo depois do gol do Flusão, empatar imediatamente, mas o time estava muito “afobado” e sentiu o gol, principalmente o seu esquema defensivo, com Jean e Miranda batendo cabeça. Aí a hora da experiência apareceu. Rogério Ceni, que gritou pra todos e começou a esbanjar categoria com seus lançamentos longos, viu Joílson escapar pela direita. O lateral são-paulino recebeu a bola com açúcar e cruzou na medida, mas a zaga tricolor cortou direitinho, só que aí o Borges estava lá para o rebote. Pegou meio esquisito, na orelha da bola, mas enganou o Fernando Henrique, que nem pulou nela achando que ela ia pra fora. Gol do São Paulo!

O jogo cresceu em ritmo, com o tricolor mandante esbanjando categoria em lançamentos do Hugo para o Dagoberto e nos chutes de fora da área do Hernanes, e o tricolor visitante buscando as bolas com o rápido Tarta pela direita ou com o Júnior César pela esquerda. A essas alturas, o Dagoberto já não rendia o esperado e Muricy resolveu sacá-lo da equipe, mudando o seu estilo de jogo para dois homens de área, deixando claro que iria explorar as bolas alçadas na área. Pelo lado do Fluminense, Renê Simões tirou o já cansado Fabinho e pôs o Ygor, além do Maurício no lugar do Arouca. Era o reflexo do “abafa” que o São Paulo tentava impor, já que ambos volantes do Flusão saíram exauridos de campo. Um Conca Esbanjando categoria, bonito de ver esse argentino jogar, pôs muitas bolas pro Júnior César correr. O Joílson sofreu tanto com essas bolas que até saiu contundido, entrando Richarlysson para o seu lugar. Com a entrada do lateral na equipe, o tricolor paulista adequou-se ao 4-4-2, com Rodrigo fazendo as vezes de lateral-direito. Talvez pela perda de ofensividade pelo lado direito tenha feito o treinador Muricy optar pela última alteração, tirando o meia Hugo e pondo o Éder Luís para cair pela ponta e aproveitar o André Lima e o Borges, que convenhamos, após essa alteração, pouco foram acionados.

E assim seguiu-se a partida, com o tricolor mandante tentando com pouca inspiração o resultado que garantia o título, e comum tricolor visitante se preocupando mais com a defesa, até os 48 do segundo tempo, quando Éber Roberto Lopes decretou o final da partida. Desde 2004 o campeonato não havia tanta expectativa de definição na última rodada quanto este. É esperar pra ver!