terça-feira, 6 de julho de 2010

Laranja eficiente faz mais uma vitima e está na final

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Por Gabriel Seixas

- Quando o assunto é Holanda nesta Copa do Mundo, não há como fugir do lugar-comum. Tal como a Alemanha (cada uma à sua maneira, claro), a Oranje consagrou de vez a absorção de um novo estilo de jogo, deixando de lado o futebol-arte batizado de Carrossel em 1974 e adotando um futebol prático, objetivo e que vem dando resultados. Ilustre como quiser a ótima fase dos holandeses: são 25 jogos de invencibilidade, sendo que desde as eliminatórias o time ostenta 100% de aproveitamento. Alguém ousa a contestar o plantel holandês como finalista deste Mundial?

- Pela campanha, pelos desfalques e principalmente pelo espírito de luta, sem desistir do placar até o último minuto, o Uruguai também merece aplausos pelo que fez em solo africano. Num determinado momento em que a Celeste parecia sem forças para reagir, diminuiu a vantagem holandesa para 3 a 2, e mesmo que não tenha conseguido ir além disso, caiu de pé. Sem Lugano, Fucile, Lodeiro e Luis Suarez, mais uma vez coube a Forlán chamar a responsabilidade (dessa vez praticamente sozinho) de criar as jogadas. Ele tentou, foi um dos destaques do jogo, mas não deu.

- Na etapa inicial, a personagem do jogo foi a Jabulani. A maior inimiga dos goleiros não perdoou nenhum dos que estiveram em campo no jogo de hoje. O uruguaio Muslera, que já havia falhado no jogo passado, quando não alcançou um chute de muito longe (e defensável) do ganês Muntari, falhou no gol de van Bronckhorst, que colocou a Holanda na frente. Aliás, que golaço! Um chute da intermediária, do flanco esquerdo, que morreu no ângulo. Indefensável. Aos 35 anos, ele se tornou o holandês – e o defensor em geral – mais velho a marcar um gol em Copas.

- A partir daí, o cenário já estava pronto. Tal como aconteceu nas outras partidas em que a Holanda assumiu a vantagem no placar, todos esperavam que a Oranje oferecesse o campo para o adversário e respondesse apenas nos contra-ataques, ou tocando a bola (aparentemente) sem muita objetividade. Basicamente, foi o que aconteceu. Contudo, o Uruguai tinha Diego Forlán. Assim como Sneijder e Robben, ele também merece uma vaguinha entre os melhores do Mundial. Enquanto esteve em campo (até ser inexplicavelmente substituído nos minutos finais), gastou a bola.

- Além de também ser craque, Forlán também sabe marcar gols, até mais do que os dois holandeses supracitados. Aos 41 minutos, ele anotou outro golaço no estádio Green Point, contando ainda com a colaboração especial do goleiro Stekelenburg, que falhou no lance e praticamente abandonou o posto de melhor goleiro da Copa. Diego poderia até ter rendido mais em campo, mas sentiu a falta de uma companhia. Cavani, que ora caía pelo lado direito, ora pelo esquerdo, foi insuficiente, mas teve boa participação.

- Os desfalques de Fucile e Lugano na zaga, que até então faziam excelente Mundial, também foram sentidos. No ataque, o artilheiro Luis Suarez também deixou saudades, mas depois da grande defesa que fez em cabeçada de Adiyiah no último minuto do jogo anterior, contra Gana, há quem diga que ele também defenderia a pancada de van Bronckhorst que resultou no primeiro gol holandês.

- van Marwijk, que muitos dizem fazer apenas figuração no banco de reservas da Holanda, foi decisivo no encaminhamento do jogo. Ainda no intervalo, substituiu o volante De Zeeuw por van der Vaart e mudou o ímpeto da equipe. O 4-1-4-1, com Kuyt, Vaart, Sneijder e Robben na terceira linha permitiu que o time encontrasse mais espaços para criar as jogadas, e consequentemente por em prática seu estilo de jogo. Mas é claro que isso não foi imediato, e pra isso os holandeses precisaram de muita paciência. Mas como pra eles é o que não falta...

- Coube aos craques resolverem de vez a partida. Enquanto Muslera deu uma ajudinha extra no primeiro gol, este papel ficou a cargo do árbitro uzbeque Ravshan Irmatov no segundo. Sneijder arriscou um chute do flanco esquerdo e o goleiro Muslera acabou atrapalhado por van Persie, que em posição irregular, permitiu que a bola passasse entre suas pernas. Não há como comparar este lance ao gol anulado de Lampard e ao validado de Tevez, por exemplo, pois foi questão de milímetros. Entretanto, o resultado foi o mesmo: um prejudicado, o outro favorecido.

- Outro holandês acima da média chama-se Arjen Robben. Hoje ele foi bem mais discreto, chamando pouco a marcação pelo lado direito, mas quando apareceu em campo, foi decisivo. Cinco minutos após o gol de Sneijder, ele recebeu cruzamento de Kuyt e colocou a bola no cantinho de Muslera, que nem se mexeu. Pra quem diz que Robben é um jogador previsível, que não tem variação de jogadas (sempre cortando pro meio e batendo de perna esquerda), foi um balde de água fria. E como o jogo era na África do Sul, foi mais fria ainda.

- Aparentemente abrindo mão do jogo, Tabarez inexplicavelmente trocou Forlán por Sebastian Fernandez. Quando um craque deixa o campo por opção do treinador, é sinal de que nada está bem. E não estava: o Uruguai perdia o jogo e não criava alternativas para marcar gols. Pelo menos até o lateral Maxi Pereira, nos acréscimos, descontar o placar. Fazendo jus a tônica desta Copa, nascia ali uma nova partida, ainda mais emocionante.

- Até o apito final de Irmatov, com dois minutos de atraso, por sinal, os uruguaios lutaram até o fim pelo gol de empate. Não precisava nem ser holandês ou uruguaio (ou botafoguense, risos) para ficar à flor da pele. Infelizmente, ainda há quem diga que esta é a pior Copa do Mundo dos últimos anos. Esta partida só comprova de que trata-se justamente do contrário.

- Muitas emoções ainda estão reservadas para esta Copa, que hoje definiu a Holanda como a primeira finalista. Nada mais justo para a seleção que apresenta o futebol mais eficiente (não confunda com futebol bonito) deste Mundial, além de ser a mais regular dos últimos anos. Já que o outro finalista será Alemanha ou Espanha, já podemos dizer com antecipação que esta será a primeira Copa fora da Europa que será conquistada por uma seleção europeia. Faça suas apostas!