sexta-feira, 2 de julho de 2010

Holanda elimina Brasil da Copa do Mundo

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Por Gabriel Seixas

- O mês de Julho mal começou, é bem verdade, mas já reserva péssimas lembranças para o torcedor brasileiro. Ontem, no dia 1, a eliminação do Brasil na Copa de 2006 para a França, no fatídico gol de Henry, completava exatos quatro anos. Hoje, no dia 2, o carrasco foi o holandês Wesley Sneijder. O panorama é bem parecido com aquele de quatro anos atrás: Brasil surpreendentemente eliminado, novamente nas quartas-de-final, e novamente tropeçando nos seus próprios erros. Com méritos, a Holanda é a primeira semifinalista da Copa do Mundo 2010.

- Não havia data e hora para que isso acontecesse, mas nem precisava entender tanto de futebol para saber que era uma tragédia anunciada. O torcedor é exigente, impaciente, sobretudo inteligente, e não se deixou levar pelas conquistas de Copa América e Copa das Confederações, muito menos pela liderança nas eliminatórias. Um ciclo de três anos e meio sob o comando de Dunga, que se desenhava para ser vitorioso, agora não vai deixar saudades (e nem deixaria de um jeito ou de outro).

- A Copa do Mundo marca o ciclo de um treinador, independente do que foi ou do que deixou de ser feito. Quando precisou-se dele, Dunga foi omisso. A derrota não foi apenas para a Holanda, pois os erros já começaram na preparação para o Mundial. Os treinos secretos, os jogadores enclausurados, o desgaste com a imprensa, nada contribuiu de forma positiva.

- E o que falar da coerência que Dunga tanto pregou na convocação? Visivelmente faltava algo mais no nosso elenco. Jogadores como Ronaldinho Gaúcho e Paulo Henrique Ganso, diferenciados, porém sem oportunidades com o nosso xerife, ficaram em casa. Outros, como Julio Baptista, Kleberson e Grafite, praticamente ganharam uma passagem com tudo pago para a África do Sul para assistirem os jogos de forma privilegiada, do banco de reservas.

- Quando finalmente tivemos que jogar para vencer, Dunga ficou sem opções. Além de Nilmar, em quem poderíamos apostar? Kleberson? Grafite? Julio Baptista? Tenho outra concepção de coerência. Os desfalques evidenciaram ainda mais a falta de um jogador que desequilibrasse no nosso banco. Ramires fez ótima partida frente ao Chile, recebeu o segundo amarelo e perdeu a chance não só de ser titular, como de ter a oportunidade de mudar a história dessa tragédia.

- Elano, que sofreu uma contusão ainda no segundo jogo, contra a Costa do Marfim, foi tratado durante sua lesão como craque por parte da imprensa, que lamentava sua ausência dando a impressão de que se tratava de um jogador insubstituível. Seus dois gols marcados mascararam a Copa discretíssima que o armador do Galatasaray fez com a bola nos pés, o que não foi exclusividade sua, claro.

- Mesmo inconscientemente em alguns momentos, o fato é que o brasileiro adora achar culpados para os fracassos, principalmente no futebol. Além de Dunga, boa parte da responsabilidade foi atribuída a Felipe Melo, tal como aconteceu com Roberto Carlos em 2006. Dos quatro gols que o Brasil sofreu na Copa, em pelo menos três o volante cometeu falhas. Hoje, contra a Holanda, a sua assistência milimétrica para Robinho abrir o placar passou despercebida com o gol contra e uma expulsão absurdamente infantil, solando Robben quando a partida já estava paralisada.

- Que Felipe Melo é um jogador temperamental e poderia perder o equilíbrio com a seleção estando em desvantagem, todos já sabiam. Dunga já sabia, tanto que o substituiu na partida contra Portugal ainda aos 44 do 1º tempo porque o volante havia recebido um cartão amarelo. Atleta que não consegue manter o nível por não saber jogar com um cartão recebido não pode estar em uma Copa do Mundo. Ainda assim, foi mantido e se deu mal. Eleito o pior jogador estrangeiro na temporada do futebol italiano, sem dúvida, foi um dos piores brasileiros em solo africano. Responsabilidade maior que a dele, só de Dunga, que ignorou os fatos e o convocou.

- Especialmente no segundo tempo, os jogadores fora de série da nossa seleção (Kaká, Robinho e Luis Fabiano), simplesmente sumiram do jogo. Salvo um chute de Kaká que passou rente à trave de Stekelenburg, nenhuma jogada efetiva de ataque foi criada pelos três em toda a etapa final. Dunga apostou em Nilmar (a única boa alternativa que tinha), e sacou Luis Fabiano. Ele lembrou que estava com um jogador a menos, mas esqueceu que estava perdendo o jogo.

- Como pontos positivos da seleção canarinho, podemos destacar a dupla de zaga Lúcio e Juan, que infelizmente não mantiveram o nível na partida de hoje. Julio Cesar, que fazia uma Copa bastante segura na meta brasileira, falhou feio no primeiro gol, batendo cabeça com Felipe Melo num cruzamento despretensioso de Sneijder, que acabou encontrando as redes. O mesmo Sneijder ainda marcou o segundo gol, o da virada, num escanteio mal batido por Robben, e desviado por Kuyt antes da bola procurar a “careca” do meia da Internazionale, que escorou pro gol.

- Mais do que destacar o fiasco da nossa seleção, é hora de parabenizar a Holanda. Definitivamente, o futebol ofensivo e encantador de décadas anteriores, batizado como Carrossel em 1974, deu lugar a um sistema até certo ponto burocrático, porem eficiente e vencedor. O triunfo marca a 24ª vitória seguida da Oranje, que ganhou todas as partidas nas eliminatórias europeias e também está 100% no Mundial. Sneijder foi o nome do jogo. Robben, como era de se esperar, não fugiu da partida, mesmo tendo rendimento abaixo de seu nível pelo lado direito de ataque.

- A renovação do Brasil já deve começar pelo comando. Já que Dunga não continuará à frente da seleção, os candidatos começam a surgir. Leonardo, ex-Milan e Mano Menezes são os primeiros nomes que surgem com força. Independentemente de quem assuma, a responsabilidade para a próxima Copa é a mesma: o título, que terá um sabor ainda mais especial, já que nosso país será sede. O sonho do hexa permanece, mas só poderá ser realizado, no mínimo, daqui a quatro anos.