domingo, 11 de julho de 2010

Enfim, Campeã Mundial

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Por Gabriel Seixas


- Após 12 anos, voltamos a presenciar um campeão mundial inédito. É bem verdade que alguns apontaram a Espanha como favorita antes mesmo do início da Copa, mas sempre com um pé atrás. É o tal receio de acreditar numa seleção sem que ela já tenha conquistado o Mundial em alguma oportunidade, que a partir de hoje, não existirá mais com os espanhois. Foi a coroação da maior geração futebolística da história do país, que tem sua base no atual maior time do continente europeu, o Barcelona. Contando com o recém-contratado Villa, foram sete blaugranas em campo desde o início.

- Em todos os sentidos, a Espanha fez história. Já não bastasse ganhar pela primeira vez uma Copa do Mundo, também foi a primeira seleção europeia a vencer um Mundial fora do continente. Durante toda a sua jornada na África do Sul, disputando sete partidas, foram apenas dois gols sofridos. Dentre todos os esquadrões campeões mundiais, é a segunda melhor defesa da história. Em contrapartida, com apenas oito gols marcados, a Fúria agora é a campeã que ostenta o pior ataque. Pouco importa. Esse elenco encantou o mundo, com um toque de bola mágico e uma objetividade incomum para times que se preocupam mais com as virtudes do adversário do que com as próprias.

- Tudo isso é fruto de um ótimo trabalho liberado pelo técnico Vicente del Bosque, que assumiu a Fúria após o título da Eurocopa em 2008, manteve a base e integrou vários jovens ao elenco, desde os titulares Piqué, Busquets e Pedro até o suplente Javi Martinez e Jesús Navas, por exemplo. Fazendo justiça, também se faz necessário exaltar o elenco holandês, que teve a chance de ser campeão mundial vencendo todas as suas partidas nas eliminatórias e na Copa, mas tropeçou no duelo final. A invencibilidade de 26 jogos chegou ao fim.

- Quanto ao jogo, é incoerente compará-lo a disputa pelo 3º lugar. Tudo bem que o jogo de ontem entre Alemanha e Uruguai foi tecnicamente melhor, mas muito pelo fato das duas equipes jogarem soltas, sem tanta responsabilidade pelo resultado. Espanha e Holanda se preocuparam mais em neutralizar o adversário, principalmente a segunda, que via a sua estratégia defensiva naufragar com o toque de bola envolvente dos espanhois. Na melhor chance de abrir o placar, Stekelenburg fez grande defesa em cabeçada de Sergio Ramos.

- A partir daí, a Holanda fez o que só a Suíça teve a competência de fazer frente aos espanhois neste Mundial: pressionar a saída de bola. A estratégia era excelente, mas poderia prejudicar o time na parte física em uma eventual prorrogação, por exemplo. Até o fim da etapa inicial, tudo saiu dentro dos conformes, com a Oranje até mesmo saindo para o ataque em algumas ocasiões. Com dificuldade, claro, já que Sneijder era bem marcado por Xabi Alonso e Busquets, e Robben não estava nos seus melhores dias.

- Na parte técnica, o segundo tempo ficou muito aquém das expectativas. O suficiente para que tantas pessoas viessem com a mesma conversa de ‘a pior final da história’, que sempre aparece de quatro em quatro anos desde 1994, ou creditando o baixo rendimento até mesmo a falta de tradição das duas equipes em finais. Tudo balela. Espanhois e holandeses sentiram o nervosismo, o que refletiu no alto número de faltas cometidas. No total, foram 47, com nada mais, nada menos do que 13 cartões amarelos distribuídos.

- Se não havia nenhum destaque individual em campo, sobrou para o árbitro Howard Webb roubar a cena. Logo o ‘lord’ inglês, que foi um dos melhores árbitros durante o Mundial, e merecidamente recebeu a responsabilidade de apitar a grande final, acabou fugindo de suas características. Acostumado a apresentar poucos cartões amarelos, acabou encontrando neles uma forma de conter a rispidez das equipes, principalmente dos holandeses. Resultado: amarelou ‘incontrolavelmente’ vários jogadores e poderia até ter expulsado alguns, casos de van Bommel e principalmente De Jong, após solada violenta em Busquets.

- Para dar movimentação ao time, Vicente del Bosque colocou Jesús Navas e Fabregas nas vagas de Pedro e Xabi Alonso. O holandês van Marwijk respondeu na mesma moeda, trocando o inoperante Kuyt por Elia. Nenhuma das alterações resolveu o jogo no segundo tempo, que teve como protagonistas, Robben e Casillas. Quando o holandês saiu cara a cara com o goleiro espanhol, foi Casillas quem se adiantou, mandando a Jo’bulani para escanteio com os pés. Que me desculpe Luis Suarez, mas esta foi a defesa da Copa.

- Na prorrogação, o cansaço venceu o time holandês. Marwijk tentou as entradas de van der Vaart e Braafheid, mas del Bosque também tinha sua carta na manga: Fernando Torres. Heroi do título da Eurocopa em 08 e titular no início da Copa, ele recebeu a missão de substituir David Villa, logo ele que posteriormente se consagraria como um dos artilheiros da Copa, marcando cinco dos oito gols da Fúria no continente africano.

- Pouca gente entendeu, mas Torres cumpriu bem sua missão. Aos 12 minutos do segundo tempo, Jesús Navas começou a jogada do gol do título. Ele arrancou com velocidade pela direita e passou para Iniesta, que de calcanhar, entregou para Fabregas. A partir daí, Iniesta só apareceria no complemento da jogada. Isso porque Fabregas serviu Torres, que tentou inverter o jogo da ponta esquerda para a direita, mas van der Vaart, desajeitado, fez o corte. A bola sobrou limpa na frente de Fabregas, que deu um tapa para Iniesta na direita, e em posição legal, o meia acertou um chute forte e preciso, sem a menor chance de defesa para Stekelenburg.

- Àquela altura, a Holanda já estava sem Heitinga, expulso. Mas esse é o detalhe menos importante da história. Aquele era o gol do título, o mais importante da história da seleção espanhola. Iniesta, assim como seus companheiros Casillas, Puyol e Xavi, já pode dizer que conquistou tudo em sua vida: Champions League, Campeonato Espanhol, Copa do Rei, Eurocopa e Copa do Mundo. Mas ao contrário dos outros três, ele também se dá ao luxo de dizer (bem alto) que foi o autor do gol do título mundial. Justo, muito justo.

- O gol poderia ser de Xavi, que acertou quase 600 passes nesse Mundial. Poderia ser de Villa, o artilheiro isolado da Fúria no torneio. Poderia ser de Piqué ou Puyol, a dupla de zaga que mistura (com qualidade) elementos como técnica e raça, e por isso pode ser considerada a melhor do mundo. Poderia ser até de Casillas, o melhor goleiro desta Copa, e o único arqueiro a realizar uma exibição memorável na África do Sul. Poderia ser de qualquer um, mas ele teria de ser necessariamente espanhol. Parabéns, Espanha! Tanto na teoria, quanto na prática, é a melhor seleção do mundo.

- Melhores da Copa


- A FIFA acertou em cheio nas premiações individuais. Apontou Casillas como o melhor goleiro, Müller como a revelação e o uruguaio Diego Forlán como o craque da Copa do Mundo. Quem leu o texto anterior, que conta a derrota da Celeste para a Alemanha, sabe que eu concordo em gênero, número e grau com a escolha de Forlán. Quanto a chuteira de ouro, Sneijder, Villa, Forlán e Müller ficaram empatados na ponta com cinco gols marcados, mas como Müller deu três assistências, e esse era o primeiro critério de desempate, levou o prêmio.

- Minha seleção da Copa: Casillas (Espanha); Lahm (Alemanha), Piqué (Espanha), Lúcio (Brasil), Fucile (Uruguai); Schweinsteiger (Alemanha), Xavi (Espanha), Sneijder (Holanda), Müller (Alemanha); Forlán (Uruguai), Villa (Espanha). Técnico: Oscar Tabarez (Uruguai). E a sua?

- Esse é o terceiro Mundial que acompanho, e sem dúvida, no geral, foi o mais agradável. Não caiam na conversa de que esta Copa foi a pior de todos os tempos na parte técnica, e que ela será marcada apenas por personagens como Polvo (100% em seus palpites nos jogos), Larissa Riquelme (sem palavras), Vuvuzela e Jabulani. A Copa na África merece seus créditos, principalmente pelo legado que deixou. Na minha opinião, é a melhor desde 86, menos para aqueles que acham que o Mundial acaba quando o Brasil é eliminado...

- Copa do Mundo? Só daqui a quatro anos, aqui no Brasil. A crise de abstinência será inevitável. Em compensação, a CBF não deu descanso, e o Campeonato Brasileiro já estará de volta na quarta-feira. Para quem, assim como eu, ficou “mal acostumado” a ver grandes jogos com Holanda, Alemanha, Espanha e outras em campo, certamente terá dificuldades em se readaptar com a realidade do nosso futebol. Volta logo, Copa! Afinal, num momento como esse, Fernando Vanucci diria “o Brasil é logo ali”. Pensando bem, é logo aqui mesmo.

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