sábado, 3 de julho de 2010

Em jogo repleto de emoções, Espanha elimina Paraguai

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Por Gabriel Seixas

- Quatro dos oito quadrifinalistas desta Copa do Mundo eram sul-americanos, fato que nunca havia acontecido na história dos Mundiais. Foi o suficiente para a imprensa, sobretudo do nosso continente, declarar sem medo de ser feliz que se tratava de uma “Copa América”. Entretanto, esqueceram que ainda haviam três europeus na disputa: Holanda, Alemanha e Espanha, além dos africanos de Gana, que acabaram eliminados. Pra quem se deixou levar pela superioridade numérica do Mercosul, se deu mal. Nos três embates “europeus x sul-americanos”, três vitórias das seleções do velho continente.

- Após os triunfos de Holanda e Alemanha sobre Brasil e Argentina, respectivamente, foi a vez da Espanha eliminar o Paraguai, vencendo por 1 a 0. Ou seja, só não teremos uma semifinal 100% europeia porque o Uruguai eliminou Gana e mantém a América do Sul na briga. A Celeste encara a Holanda, mas o grande embate desta fase é justamente o outro, entre a atual campeã e a vice europeia: Espanha e Alemanha.

- A reedição da final da Eurocopa em 2008 agora marca o duelo das semifinais desta Copa, que será disputada na quarta-feira (com Uruguai e Holanda se enfrentando um dia antes). Caso a Holanda vença o Uruguai, independente do resultado do jogo entre espanhois e alemães, será a primeira vez que uma seleção europeia vencerá uma Copa do Mundo fora de seu continente. Nas Copas de 86 (no México) e 94 (Estados Unidos) também tivemos três semifinalistas europeus, mas todos acabaram morrendo na praia.

- Mas vamos deixar o duelo dos continentes de lado e focar no que realmente interessa. Espanha e Paraguai fizeram um duelo digno de Copa do Mundo, que reuniu equilíbrio, emoção, dois pênaltis perdidos e o gol do jogo marcado a sete minutos do fim. Aos 38 minutos, David Villa garantiu a vitória da Espanha e também a artilharia isolada do Mundial até aqui, com cinco gols. Ele se igualou a outros nomes ilustres do futebol espanhol como o maior artilheiro da seleção em Copas.

- Contudo, quem esperava uma atuação envolvente do time espanhol acabou se frustrando um pouco. Méritos para o time paraguaio, que em muitos momentos do jogo adiantou a marcação e dificultou o toque de bola do adversário, que é justamente uma de suas maiores virtudes. Com Xavi e Iniesta bem marcados, foram poucas as jogadas insinuantes construídas pela Espanha no primeiro tempo. Esse panorama acabou obrigando Vicente del Bosque a fazer variações táticas, revezando do 4-2-2-2 para o 4-2-3-1 e mudando o posicionamento dos armadores e dos atacantes.

- Ainda que tenha atacantes de renome no plantel, o Paraguai ainda não conseguiu se desfazer de suas raízes. O ponto forte do time comandado por Gerardo Martino continua sendo o sistema defensivo, o que não é nenhum demérito. Entretanto, a falta de um armador de ofício prejudica a participação dos atacantes albirrojos nas partidas, principalmente no caso do centroavante, que hoje foi Cardozo. Até por isso, Martino trocou o habitual 4-3-3 pelo 4-2-3-1, reforçando a marcação e qualificando o toque de bola.

- O jogo truncado e sem inspiração dos dois times na etapa inicial deu lugar a um segundo tempo repleto de emoções, a flor da pele. Pelo lado espanhol, Xavi e Iniesta começaram a se soltar mais em campo, Villa abria o jogo pelo lado esquerdo e Fernando Torres continuava discreto. Visivelmente fora de forma, o artilheiro do Liverpool logo foi substituído por Fabregas, formação que del Bosque já poderia optar como a inicial. Só que a figura que começou aparecer em campo foi um guatemalteco: o árbitro Carlos Batres.

- Aos 12 minutos, ele marcou pênalti de Piqué em Cardozo no típico “agarra-agarra” na área. O mesmo Oscar Cardozo, artilheiro do Benfica e caracterizado pela frieza quando executa cobranças de pênalti, foi em direção a bola com um nervosismo incomum. Não deu outra: bateu mal, no canto esquerdo de Casillas, que encaixou a bola. No contra-ataque, naquele clássico lance de compensação, Batres ao meu ver exagerou ao dar pênalti de Alcaraz em Villa.

- Xabi Alonso se apresentou para a cobrança. Ele deslocou Villar e mandou pras redes, mas o árbitro alegou invasão dos jogadores de ambas as equipes (o que foi claramente ignorado no pênalti batido por Cardozo) e mandou voltar. Na segunda cobrança, Xabi, que havia batido no canto esquerdo, optou pelo direito e acabou parando na grande defesa de Villar. E Batres só não marcou o terceiro pênalti do jogo em quatro minutos porque não viu Villar derrubando Fabregas no rebote.

- No fim das contas, quem acabou se abatendo com essa sequência foi o Paraguai, principalmente Cardozo. Martino tentou mudar o ânimo e o ímpeto do time, lançando Vera e Santa Cruz, mas nada adiantou. Quem se deu melhor nas substituições foi del Bosque, que trocou Xabi Alonso por Pedro, e de quebra, ainda viu o suplente Fabregas crescer na partida. Faltando sete minutos para o final, a Espanha carimbou a vitória.

- Iniesta fez grande jogada pelo meio e serviu Pedro, que do flanco direito, dentro da área, chutou cruzado. A bola carimbou a trave e voltou para o artilheiro David Villa, bem posicionado, finalizar com consciência no rebote. A bola novamente carimbou a trave, mas desta fez teve um novo e feliz destino: as redes. É a Copa do Mundo de David Villa, artilheiro com cinco gols. A partir daí, foi só controlar o ímpeto do Paraguai e garantir o triunfo.

- Não foi das exibições mais convincentes, mas esse time espanhol já faz história. Cotado como favorito ao título antes do torneio, leva a Espanha pela primeira vez às semifinais de uma Copa. Ao Paraguai, restaram lamentações apenas por esta derrota, pois no geral, a campanha foi positiva, classificação a seleção albirroja pela primeira vez a uma fase quartas-de-final de um Mundial. Após o apito final, chamou atenção a reação de Cardozo, que perdeu a oportunidade de colocar o Paraguai na frente do placar, cobrindo o rosto com a camisa e ignorando qualquer tipo de solidariedade de paraguaios e espanhois.

- Vai sair faísca do duelo entre Espanha e Alemanha. São as duas equipes que apresentam o melhor futebol desta inédita Copa na África, mas é bom frisar que de forma alguma trata-se de uma final antecipada. É a tradição e a juventude do time alemão frente a eficiência e ao talento individual dos espanhois, que premiará um vencedor nesta quarta-feira. Imperdível!

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