domingo, 1 de agosto de 2010

No Clássico dos Milhões, Flamengo e Vasco não saem do zero

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Por Gabriel Seixas

Em tese, foram 90 minutos de clássico no Maracanã, mas pode-se dizer tranquilamente que apenas os dez últimos (com muita generosidade) valeram o ingresso. Cobrar uma partida de alvo nível técnico soa como inocência, mas é fato que esperava-se mais emoção no duelo, até pelo histórico dos confrontos entre Flamengo e Vasco.

Maioria nas arquibancadas, o que foi uma das poucas novidades no jogo, a torcida vascaína abraçou o time no seu principal trunfo: a motivação, que pode contradizer com a colocação que o cruzmaltino ocupa na tabela, mas coincide com as vitórias e consequentemente com a boa fase vivida desde a chegada do técnico PC Gusmão.

Como de costume, o Flamengo esbarrou nas suas próprias limitações técnicas, “premiando” a torcida apenas no quesito força de vontade. Quem ficou em casa, não perdeu nada. Entretanto, mesmo jogando mal, foram os rubro-negros que chegaram mais perto da vitória, porém existia um Fernando Prass no meio do caminho. Numa sequência de três defesas sensacionais em finalizações de Vinicius Pacheco, Borja e Juan (que você pode assistir clicando aqui) somada a outra defesa espetacular no último lance do jogo, em falta cobrada por Petkovic, o goleiro vascaíno foi o grande destaque do Clássico dos Milhões.

O jogo foi ruim, mas quem ficou surpreso? Esperava-se que o Vasco controlasse as ações do jogo pela empolgação vivida na temporada, a cada rodada ganhando posições no Brasileirão, mas de forma alguma esse fato poderia configurar um favoritismo, principalmente se tratando de um clássico. A etapa inicial foi equilibrada, mas infelizmente nivelada por baixo. Os vascaínos tinham nos estreantes Felipe e Zé Roberto as grandes válvulas de escape, e nem a falta de ritmo de jogo os impediu de atuarem muito bem, principalmente o segundo.

Desorganizado taticamente, o Flamengo errou praticamente tudo o que tentou. No meio-campo, Correa e Willians foram verdadeiros leões na contensão, mas quando a bola chegava mais na frente – ou simplesmente caía no pé do segundo -, nada mais acontecia. Borja e Val Baiano equivaleram a dois cones no ataque, sobretudo o segundo, que foi substituído nos primeiros minutos da etapa final como se nem tivesse entrado em campo. Kleberson mais uma vez foi uma negação na armação, talvez assim justificando sua presença na lista de Dunga para a Copa do Mundo.

Bem marcado e sem inspiração, Petkovic foi outro que não rendeu. Quando se trata do sérvio, esse discurso vale desde o encerramento do Brasileirão em 2009. PC Gusmão organizou o Vasco com três volantes e cedeu poucos espaços. Rafael Carioca foi o destaque na proteção à defesa, sempre muito seguro nos desarmes e efetivo na saída de bola, seguido de perto pelo garoto Rômulo, que não se intimidou com a titularidade em um clássico de tanta importância.

A partida, que já era ruim, ficou ainda mais sonolenta na etapa final. Como bem destacou o comentarista Álvaro Oliveira Filho, da Rádio CBN, o placar só permaneceu 0 a 0 porque não há como ser menos que isso. Faltou ousadia nas primeiras alterações de ambos os técnicos. Pelo Flamengo, Rogério Lourenço apostou no volante Fernando na vaga de Kleberson, enquanto o vascaíno PC Gusmão respondeu com Carlos Alberto no lugar de...Nunes, o único centroavante do time. O contra-ataque ficou mais incisivo, porém faltava uma referência na frente.

O jogo era tão igual, mas tão igual, que os técnicos decidiram corrigir os equívocos praticamente na mesma hora. Enquanto Lourenço trocou o inócuo Val Baiano por Vinicius Pacheco, que auxiliaria Juan no apoio às costas do lateral Irrazabal – muito mal defensivamente -, PC Gusmão trocou Felipe, cansado, pelo atacante Eder Luis, reorganizando o sistema tático do início da partida. A princípio, nada mudou. Mas quando o “leão” rubro-negro Willians sentiu uma pancada e pediu pra sair, inclusive provocando gritos de “burro” da torcida, o Vasco cresceu.

Fagner não conseguiu finalizar a gol porque o goleiro Marcelo Lomba se antecipou com eficiência, e no lance seguinte, Eder Luis aproveitou bobeira de Leo Moura e finalizou, mas Lomba foi novamente providencial. Foram os últimos suspiros do time vascaíno, vencido pelo cansaço. A partir dos 41 minutos, “nascia” o grande heroi da nação cruzmaltina: Fernando Prass.

No terceiro parágrafo você encontra o link para assistir a sequência inacreditável de defesas de Prass, que começou num chute cruzado de Vinicius Pacheco. O goleiro deu rebote, e na sobra, Borja teve calma para cortar o defensor, mas displicência na hora de finalizar de perna esquerda. Entretanto, o mérito foi unicamente do arqueiro, que no rebote, ainda evitou um gol de Juan numa tentativa de peixinho. Seria Rodolfo Rodrigues o responsável por abençoar Fernando Prass neste “bombardeio”?

A seção de milagres acabou apenas no último lance do jogo, numa falta cobrada por Petkovic com perfeição, que o goleiro do Vasco se esticou todo para mandar pra escanteio. Como não havia tempo pra mais nada, o árbitro Péricles Bassols apitou o fim da partida. Os minutos finais não só valeram o ingresso, como tranquilamente poderiam ter culminado na vitória do Fla. Pela mistura de incompetência nas finalizações e a noite inspiradíssima de Prass, o objetivo não foi cumprido. De qualquer forma, o zero no placar retratou com perfeição o que foi a partida.

Como bem disse Roberto Dinamite após o jogo, os reforços vascaínos agradaram no primeiro teste, e à medida que ganharem entrosamento com o elenco, serão fundamentais na manutenção da boa fase da equipe. No Fla, o sinal de alerta amarelo já deu lugar ao vermelho. O oitavo lugar não pode esconder as limitações do elenco, os sucessivos equívocos do treinador e a turbulência vivida na direção do clube.

O clássico, que era pra ser um divisor de águas, acabou não interferindo em nada na mudança de ambiente. Pelo contrário. O buraco continua cada vez mais fundo, mas ainda assim, o atual campeão brasileiro e dono da maior torcida do Brasil não merece ser subestimado. Este campeonato é tão equilibrado que nem a crise faz o Flamengo deixar de figurar na parte de cima da tabela. Por enquanto. É bom que se aproveite esse momento para criar mecanismos de forma que isso se mantenha até o fim da competição, o que a cada rodada, parece muito improvável.
Curtinha
- O Santos foi a Presidente Prudente com o time reserva e conseguiu uma importante vitória sobre o Prudente por 2 a 1. Todos os gols saíram na segunda etapa. Danilo e Rodriguinho fizeram para o Peixe e Robson descontou para os interioranos, que ainda tiveram a chance de empatar, mas perderam dois pênaltis, um com Paulo César e outro com Robson.

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