domingo, 2 de dezembro de 2007

Tragédia Corintiana: Ato Final

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Por Fernando Murilo


Um ano a ser esquecido. Uma temporada marcada por um déficit imensurável na história de um clube com tantos adeptos. Porém, nem o mais pessimista dos corintianos iria imaginar que o ano fosse acabar com um desastre dessa proporção.


É com este pensamento de esperança, capitaneada pelo jeito irreverente de Vampeta, que aconteceu o último confronto do escrete corintiano ante um Olímpico lotado. A partida, marcaria talvez mais um capítulo da raça de jogadores que foram execrados ao longo de todo o campeonato. Porém, o Grêmio, que ainda aspirava a uma vaga na Libertadores, queria entregar uma vitória ao seu comandante Mano Menezes, este a fazer seu último jogo ao leme do tricolor gaúcho.


Durante toda a semana, as expressões de inteira concentração demonstrada por todo o elenco do time paulista parece não ter sido a tônica do início da partida. Já no primeiro minuto, uma falta imprudente do zagueiro Fábio Ferreira pôs a prova o coração de cada torcedor de uma torcida fanática. A jogada mortal do time gremista fez mais uma vítima, e Jonas acabou abrindo o placar da partida após cruzamento de Bustos.


Do time corintiano em campo, o líder Vampeta buscava sempre os lançamentos para alimentação do ataque. Mas, o prudente esquema de Nelsinho Baptista, que resolveu por três volantes para conter o ímpeto gremista, não fazia o time ser o dono das ações neste setor.
Empurrados por 3 mil fanáticos, o time partiu pra cima. Com as esporádicas arrancadas do sumido Lulinha, a equipe partia e ganhava cada vez mais a posse da bola. Mas, a cada ataque do time gremista, os defeitos observados em outros atos deste calvário que foi o campeonato brasileiro eram latentes: o buraco do meio-campo, a falta de um organizador para criação de jogadas ofensivas e um ataque ineficiente apareciam a cada jogada. Mas a fanática torcida continou de pé, gritando, demonstrando seu amor e sua garra em acreditar no impossível.
Entretanto, o time ainda poderia se dar ao luxo de perder a partida. Mas para isso, o time do Internacional, que não almejava mais nada na competição, precisava ganhar do Goiás em pleno Serra Dourada. Era o que estava acontecendo, e talvez acreditando mais no resultado positivo lá da capital goiana, que a torcida fanática se inflamava, não deixava de gritar e de declarar que, nem a voz impediria de dizer “LOUCO POR TI, CORINTHIANS!”. Porém, a primeira apunhalada ocorreu.


Os torcedores gremistas, unidos a todo um Brasil “anti-corintiano” passou a comemorar o empate da equipe goiana de um jogo que sua equipe havia diminuído o ritmo inicial. O grande articulador de jogadas, Tcheco, pouco produzia, Ramón, outro articulador, estava sumido em campo e, só as arrancadas de Diego Souza e a luta do centro-avante Marcel entre os zagueiros da equipe paulista eram o que impulsionava a partida e exigia do herói Felipe defesas importantes.
Porém, diante de uma força nunca demonstrada ao longo da competição, somente explicada pela força da manta corintiana que uma resposta imediata aconteceu para calar todo um estádio. Vampeta lançou na área, o lateral improvisado Carlos Alberto cruzou e Clodoaldo escorou para as redes, decretando o empate do Corinthians.


Como 3 mil loucos conseguem calar toso um estádio? Simples. Basta um gol como este acontecer para a paixão corintiana ecoar numa torcida gremista em silêncio.


Durante o transcorrer do primeiro tempo, poucos lances a ser tomado nota, como um gol incrível perdido pelo Clodoaldo após chute de Bruno Octávio. Do lado gremista, as arrancadas de Marcel e Diego Souza eram ineficientes nas conclusões, que não exigiram muito trabalho do goleiro Felipe até o final da primeira etapa.


Veio o segundo tempo e o técnico Mano Menezes, que percebeu que havia perdido as ações do meio-campo, resolver por em campo Sandro Goiano, para ganhar a briga pela posse de bola neste setor. Além dele, também entrou em campo o lateral Anderson Pícon em lugar do cansado Bustos, que estava improvisado.


Com nenhuma alteração da equipe corintiana, a segunda etapa começou, e o marasmo em campo se tornava evidente. O time gremista, que estava perdendo a chance de disputar a Libertadores, pouco se inspirava, e o time corintiano se sentia confortável com a situação da rodada. Porém, mais uma apunhalada aconteceu. No Serra Dourada, pênalti pro Goiás. Num verdadeiro teste pra cardíacos, a torcida esqueceu a equipe que ali jogava e voltava as atenções para Paulo Baier. O jogador perdeu duas oportunidades seguidas e cedeu a cobrança do pênalti para Élson marcar. Um gol que prendeu a garganta de toda uma torcida. A partir de então, a “via crucis” da torcida fanática teria seu capítulo mais doloroso. Nelsinho pôs tudo de ofensivo que lhe restava de opção no banco de reservas e o time tentou, com Arce, Lulinha, Heverton e Clodoaldo o que não conseguiu ao longo de uma competição inteira: um gol milagroso, uma esperança de que o amanhã seria ao menos mais feliz. Pois é, ele não veio.


O desespero estava estampado na torcida, que se encontrava calada, acuada, como diante de um pelotão de fuzilamento. O Grêmio, que percebeu o abatimento da equipe adversária, conseguia impor o ritmo e criar chances de perigo. Numa delas, Felipe fez grande defesa após cabeceio de Marcel.


Mano partiu pra tentar a vitória, trocando cansado Marcel por Tuta, o meio artilheiro das edições de pontos corridos do Campeonato Brasileiro desde sua criação.


Os ataques incessantes e sem qualquer organização da equipe corintiana demonstrava o desespero de uma jovem equipe que sofria pela queda anunciada há muito pela imprensa. Mas em momento algum no campo o time se rendia, como que guiado pelo amor de uma nação fanática.


Porém, o tempo era inimigo de um time que pecou o ano todo, seja por administrações equivocadas, escândalos ou falta de qualidade técnica.


A nação que muitas vezes emocionou o Brasil mostrou-se frágil, e chorou, como quando se perde um ente querido.


Mas a nação não deixou de demonstrar mais uma vez a emoção do seu amor, gritando sua loucura por um time que a fez ter muitas vezes raiva.


O time caiu, e um período negro toma conta de uma das torcidas mais apaixonantes do país. Mas esse ato final é o começo da reflexão e de, quem sabe, mais uma volta por cima de uma instituição movida por amor.

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