terça-feira, 9 de outubro de 2007

O grande Campeão: Ronaldo, o avesso do impossível

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Por Wagner Sarmento

Explosão. Espetáculo. Sucesso. Sofrimento. Apreensão. Desconfiança. Esperança. Superação. Redenção. Nove breves palavras talvez resumam uma trajetória, mas decerto são insuficientes pra descrever os incontáveis obstáculos que o destino impôs ao caminho de um jogador que nasceu pra desmentir e emocionar. O poeta francês Victor Hugo ousou dizer que “nada é mais iminente que o impossível”. E não seria exagero afirmar que a inspiração para os versos só viria mais de um século depois. Assim como o craque antevê a jogada, o escritor telegrafou a poesia. Foi nos pés de Ronaldo que as letras ganharam vida e se fizeram verdade.

Era impossível acreditar que aquele menino franzino e dentuço poria o planeta aos seus pés. O Cruzeiro deu chance à estrela. O garoto se desprendeu da constelação. O campo virou seu céu. O gol, seu horizonte. O êxito meteórico lhe rendeu convocação para a seleção brasileira aos 17 anos. Em seguida, transferiu-se para o PSV. A missão era árdua: substituir o ídolo Romário no coração dos holandeses. Ronaldo foi mestre na conquista. Fez dos gols seu buquê de rosas. Bateu recorde de bolas na rede. E, pouco mais de três anos após surgir no futebol, Ronaldo deixou de ser mais um nome para se tornar Fenômeno. As arrancadas faziam jus ao apelido. Destroçavam todo e qualquer sistema defensivo. Impiedosamente. Mas, ao contrário de outros fenômenos que sempre resultaram em mortes e tragédias, Ronaldo multiplicava alegrias. Furacão do bem. Vendaval de encanto. Tufão de dribles. Tempestade de gols. No Barcelona, felicidade instantânea. A temporada no clube catalão transformou o craque em unanimidade. Nos pés do Fenômeno, o impossível era trivial. Nos gramados do marketing, o codinome também encontrava razão.

Em 1998, na terra de Victor Hugo, o mundo parou pra ver Ronaldo. Milhões de apaixonados esperavam pelo artista que fez do número 9 sinônimo de show. A expectativa, porém, deu lugar à frustração. O fracasso passava a fazer parte da biografia do atacante. As certezas viraram dúvidas. Os carinhos viraram ofensas. O calvário começava ali. Na Inter de Milão, o peso do mundo desabou sobre o joelho do craque. As seguidas contusões interromperam a estrada do jogador. O planeta chorou a dor do Fenômeno. O fim se impunha como sentença quase inevitável. O impossível, de novo, aparecia na vida de Ronaldo. Desta vez, como pesadelo. Ninguém imaginava que aquele sorriso onipresente na hora de comemorar os gols se esconderia no breu de um sofrimento implacável. A via crúcis já durava mais de dois anos. As arrancadas brecaram. Os gols cessaram. A chama da esperança se dissipava. Torcedores, críticos e médicos: todos descrentes.

Mas o hino da pátria também anteviu Ronaldo. “Verás que um filho teu não foge à luta”. Dito e feito. O Fenômeno fez as pazes com o impossível. Bastou o mundo duvidar para o craque contradizer. Ninguém acreditava. Só ele. Sozinho, Ronaldo foi fé, trabalho e persistência. Milhões de apaixonados se emocionaram com o jogador que fez do número 9 sinônimo de superação. Quatro anos após a queda, a redenção. O Fenômeno provou a todos que o gigante estava apenas adormecido. Morto jamais. Com oito gols e a conquista do pentacampeonato mundial, Ronaldo escreveu a volta por cima que fez o mundo novamente chorar. Lágrimas de ressurreição.

No Real Madrid, os quilos aumentaram. Os relacionamentos amorosos também. Os holofotes passaram a exercer marcação cerrada. As críticas se quedaram recorrentes. No entretempo das pequenas crises, um faro de gol irremediável. Na Alemanha, o sonho do hexa minguou. Mas nem tudo foi tristeza para o gordo. O Fenômeno ganhou peso na história ao se tornar o maior artilheiro em Copas do Mundo e o segundo maior goleador da seleção brasileira, atrás apenas do Rei Pelé.

O horizonte, agora, acena novos desafios. Após 15 títulos por clubes e pela seleção canarinho, 16 prêmios individuais, nove artilharias e quase 500 gols, o Fenômeno ensaia mais uma reação. O carioca de dentes e talentos avantajados retorna à Itália para recuperar o prestígio abalado. A desconfiança, mais uma vez, se insurge e faz sombra à luz do agora rossonero Ronaldo. Reticentes, os torcedores desdenham do futuro. Alegam que o final de carreira está próximo. Subestimam. Chacoteiam. Desprezam. Desistir, contudo, é um verbo que o Fenômeno jamais conjugou. Perseverança foi a lição que o atacante ensinou a cada improvável recomeço. Pode até ser difícil crer em mais uma volta por cima. Mas, ao pensar em Ronaldo, é bom relembrar os infalíveis versos de Victor Hugo. Para o Fenômeno, o impossível é iminente.

Um comentário:

Arthur Virgílio disse...

Muito legal o blog. Se puder dê uma passada no meu.